Trump tenta controlar o apetite das feras do Maga ou será engolido por elas

Vídeos de bonés com o slogan Make America Great Again (Faça a América Grande Novamente) ardendo em churrasqueiras pelos Estados Unidos, em sinal de protesto, não só agitaram as redes, como chamuscaram o humor do presidente americano. Vamos lá. Trump passou por uma semana difícil. Ele falou pouco sobre tarifas. Parecia irritado com a cobrança de seus apoiadores para que tudo o que envolva a morte do abusador sexual Jeffrey Epstein venha à tona. A Magasfera bateu o pé. Quer acesso a arquivos que possam corroborar uma teoria conspiratória que ela própria rumina há anos. Enquanto isso, novas reportagens brindam o público com momentos dourados da amizade entre Trump e Epstein. Contêm fotos de festinhas, bilhetes enigmáticos, desenhos eróticos. O presidente já foi informado de que os arquivos que seus apoiadores tanto querem ver têm pelo menos três passagens complicadas para ele. Hora de desviar o foco e enxugar a baba dos Magas. Não foi por outra razão que, dias atrás, Trump postou um vídeo sórdido, feito por IA, no qual Barack Obama aparece visitando-o na Casa Branca, quando é detido, algemado e preso. Agora ele investiga possível ingerência do democrata em denúncias sobre a ajuda que Vladimir Putin pode ter-lhe dado em 2016. E, em vez do arquivo Epstein, ofereceu ao público um arquivo do FBI sobre Martin Luther King. Em poucas tacadas, acertou o primeiro presidente negro e o maior líder negro dos Estados Unidos. A Magasfera aplaude. Para essa massa inflamável, Obama não é americano, mas um impostor. Já Luther King, com suas ideias e sonhos, arruinou a América branca. Como numa arena romana, Trump descarna figuras públicas que são a sua antítese, lançando pedaços para controlar o apetite das feras. Ou será engolido por elas. O movimento Maga xenófobo, racista, homofóbico e profundamente moralista, tem sido estudado. Por um trabalho da Universidade da Califórnia, fica-se sabendo que seus integrantes representam hoje 33,6% de todos os republicanos. São uma força política. Gente que continua irada contra "a eleição roubada de Biden", o que justificaria a tentativa selvagem de invasão do Capitólio. Desafiador e beligerante, o movimento depende do pensamento conspiratório para existir. Então, imigrantes comem animais domésticos. Democratas tiram empregos dos brancos para dar aos negros. Vacinas matam. Pedófilos controlam as finanças do mundo. E Trump nisso? Como ele é muito rico, conhece o submundo do poder e sabe como agir. Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo Carregando... Trump continuará lançando corpos às feras, mas tem pela frente um gladiador: Rupert Murdoch, presidente emérito da News Corp., agora seu ex-amigo. A reportagem do Wall Street Journal, do grupo de Murdoch, sobre a convivência do republicano com Epstein, deu origem ao processo que Trump moveu contra o veículo, com pedido de reparação bilionária. O ofendido acusou o golpe. Sabe-se que ligou pessoalmente para a editora do jornal exigindo que ela sumisse com a matéria. Murdoch poderá fechar o verão na Côte d’Azur, se os termômetros permitirem. Tem Trump nas mãos. Ao mesmo tempo em que seus jornais continuarão na cobertura, ele manterá a Fox News, galinha dos ovos de ouro do seu império de mídia, como o canal preferido da extrema direita, vocalizando tudo o que a Magasfera quer ouvir. Murdoch joga a mesma partida em campos diferentes, guiado por uma única ideia: "business first" (negócios em primeiro lugar). Adblock test (Why?)

25/07/2025 | 02:29
Trump tenta controlar o apetite das feras do Maga ou será engolido por elas

Vídeos de bonés com o slogan Make America Great Again (Faça a América Grande Novamente) ardendo em churrasqueiras pelos Estados Unidos, em sinal de protesto, não só agitaram as redes, como chamuscaram o humor do presidente americano.

Vamos lá. Trump passou por uma semana difícil. Ele falou pouco sobre tarifas. Parecia irritado com a cobrança de seus apoiadores para que tudo o que envolva a morte do abusador sexual Jeffrey Epstein venha à tona. A Magasfera bateu o pé. Quer acesso a arquivos que possam corroborar uma teoria conspiratória que ela própria rumina há anos.

Enquanto isso, novas reportagens brindam o público com momentos dourados da amizade entre Trump e Epstein. Contêm fotos de festinhas, bilhetes enigmáticos, desenhos eróticos. O presidente já foi informado de que os arquivos que seus apoiadores tanto querem ver têm pelo menos três passagens complicadas para ele. Hora de desviar o foco e enxugar a baba dos Magas.

Não foi por outra razão que, dias atrás, Trump postou um vídeo sórdido, feito por IA, no qual Barack Obama aparece visitando-o na Casa Branca, quando é detido, algemado e preso. Agora ele investiga possível ingerência do democrata em denúncias sobre a ajuda que Vladimir Putin pode ter-lhe dado em 2016. E, em vez do arquivo Epstein, ofereceu ao público um arquivo do FBI sobre Martin Luther King. Em poucas tacadas, acertou o primeiro presidente negro e o maior líder negro dos Estados Unidos.

A Magasfera aplaude. Para essa massa inflamável, Obama não é americano, mas um impostor. Já Luther King, com suas ideias e sonhos, arruinou a América branca. Como numa arena romana, Trump descarna figuras públicas que são a sua antítese, lançando pedaços para controlar o apetite das feras. Ou será engolido por elas.

O movimento Maga xenófobo, racista, homofóbico e profundamente moralista, tem sido estudado. Por um trabalho da Universidade da Califórnia, fica-se sabendo que seus integrantes representam hoje 33,6% de todos os republicanos. São uma força política. Gente que continua irada contra "a eleição roubada de Biden", o que justificaria a tentativa selvagem de invasão do Capitólio.

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Desafiador e beligerante, o movimento depende do pensamento conspiratório para existir. Então, imigrantes comem animais domésticos. Democratas tiram empregos dos brancos para dar aos negros. Vacinas matam. Pedófilos controlam as finanças do mundo. E Trump nisso? Como ele é muito rico, conhece o submundo do poder e sabe como agir.

Trump continuará lançando corpos às feras, mas tem pela frente um gladiador: Rupert Murdoch, presidente emérito da News Corp., agora seu ex-amigo. A reportagem do Wall Street Journal, do grupo de Murdoch, sobre a convivência do republicano com Epstein, deu origem ao processo que Trump moveu contra o veículo, com pedido de reparação bilionária. O ofendido acusou o golpe. Sabe-se que ligou pessoalmente para a editora do jornal exigindo que ela sumisse com a matéria.

Murdoch poderá fechar o verão na Côte d’Azur, se os termômetros permitirem. Tem Trump nas mãos. Ao mesmo tempo em que seus jornais continuarão na cobertura, ele manterá a Fox News, galinha dos ovos de ouro do seu império de mídia, como o canal preferido da extrema direita, vocalizando tudo o que a Magasfera quer ouvir.

Murdoch joga a mesma partida em campos diferentes, guiado por uma única ideia: "business first" (negócios em primeiro lugar).