Rússia anunciou a vacina contra o câncer, que será distribuída gratuitamente

A Rússia anunciou oficialmente (6 de setembro) que concluiu o desenvolvimento de uma vacina terapêutica contra o câncer considerada pronta para uso clínico. O anúncio foi feito pela chefe da Agência Federal Médico-Biológica (FMBA), Veronika Skvortsova, em declaração à imprensa russa. Segundo ela, todos os documentos necessários já foram enviados ao Ministério da Saúde para avaliação e autorização da etapa de testes em pacientes.

"No final do verão de 2025, enviamos documentos ao Ministério da Saúde para obter permissão para o uso clínico desta vacina. A pesquisa durou vários anos. Os últimos três anos foram estudos pré-clínicos regulamentados (...) A vacina está pronta para uso, estamos aguardando permissão", disse Skvortsova em entrevista ao jornal russo "Izvestia".

Histórico do desenvolvimento

O projeto de vacinas contra o câncer ganhou destaque público em dezembro de 2024, quando o governo russo informou que duas formulações estavam em estágio avançado de pesquisa:

• Vacina personalizada baseada em mRNA – voltada para treinar o sistema imunológico a reconhecer e atacar mutações específicas do tumor de cada paciente.
• Enteromix – desenvolvida a partir de quatro vírus não patogênicos, capazes de destruir células cancerígenas e, ao mesmo tempo, ativar a resposta imune contra elas.

Ambas foram apresentadas como parte de um programa nacional de acesso gratuito a novos tratamentos oncológicos, previsto para iniciar em 2025.

Como funciona a vacina

Diferentemente das vacinas preventivas tradicionais, como as aplicadas contra sarampo ou HPV, a vacina russa é terapêutica. Isso significa que ela não impede a ocorrência do câncer, mas atua como parte do tratamento de pacientes já diagnosticados.

A tecnologia utilizada é semelhante à das vacinas de mRNA contra a covid-19: o material genético é programado para instruir o organismo a produzir proteínas específicas relacionadas ao tumor. Essas proteínas funcionam como “alvos”, estimulando o sistema imunológico a reconhecer as células cancerígenas como ameaças e combatê-las.

De acordo com a FMBA, a formulação é personalizada, ou seja, ajustada conforme o perfil genético do tumor de cada indivíduo.

Resultados até agora

Nos estudos pré-clínicos, realizados em laboratório e em animais, a vacina demonstrou:

• Segurança, mesmo após doses repetidas;
• Supressão do crescimento tumoral em vários tipos de câncer, incluindo glioblastoma e melanoma;
• Redução da formação de metástases;
• Aumento da sobrevida nos modelos testados.

Ainda não há, entretanto, dados publicados em revistas científicas revisadas por pares.

Próximos passos

A vacina aguarda aprovação do Ministério da Saúde da Rússia para iniciar os ensaios clínicos em humanos. Essa etapa é essencial para verificar eficácia, segurança e possíveis efeitos colaterais em pacientes reais.

Segundo Skvortsova, após a autorização, os testes devem ser iniciados em hospitais e centros de pesquisa do país. A expectativa é que, se comprovada a eficácia, a vacina seja incorporada ao sistema público de saúde russo e disponibilizada gratuitamente.

Pesquisadores de diferentes países acompanham o caso com atenção. A possibilidade de uma vacina terapêutica contra o câncer representa um avanço significativo, mas especialistas destacam que ainda é cedo para confirmar resultados. O sucesso dependerá dos ensaios clínicos em larga escala, que podem levar anos para serem concluídos.