Anderson Torres nega fraudes nas urnas e rejeita participação em plano golpista, durante depoimento ao STF

Ex-ministro da Justiça afirma que PF não encontrou indícios de fraudes nas eleições e nega ter contribuído com qualquer articulação antidemocrática. Depoimento faz parte do processo que investiga tentativa de golpe em 2022.

10/06/2025 | 14:37
Anderson Torres nega fraudes nas urnas e rejeita participação em plano golpista, durante depoimento ao STF
Bolsonaro/Gustavo Moreno Metropoles

Brasília – O ex-ministro da Justiça Anderson Torres depôs nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF), negando envolvimento em qualquer tentativa de golpe de Estado e assegurando que a Polícia Federal (PF), órgão sob sua responsabilidade durante o governo de Jair Bolsonaro, jamais identificou irregularidades nas urnas eletrônicas nas eleições de 2022.

"Eu sempre disse que tecnicamente não havia nada a ser apresentado ao presidente sobre suspeitas nas urnas eletrônicas", afirmou Torres, que é réu no processo que investiga uma possível articulação para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após sua vitória nas urnas.

O depoimento ocorreu no segundo dia de oitivas da ação penal conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes. Torres figura como um dos oito acusados por integrar um suposto núcleo golpista.

Rejeição à ofensiva golpista

O ex-ministro negou também ter participado de reuniões com o objetivo de planejar qualquer ofensiva contra a ordem democrática. Segundo ele, não houve solicitação sua para que a então diretora de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública, delegada Marília Ferreira Alencar, elaborasse relatórios com base no desempenho eleitoral do presidente Lula em municípios específicos — prática que levantou suspeitas sobre uso político da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Torres garantiu que a proposta da delegada foi imediatamente descartada:

“Entendi naquele momento que aquilo não representava qualquer indício de crime eleitoral. Nunca vi métrica como essa. Foi prontamente desconsiderada”.

Apesar disso, o relatório produzido por Marília consta na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que aponta a tentativa de interferência em órgãos de segurança para fins eleitorais.

Minuta golpista: “Documento sem origem”

Torres também foi questionado sobre a minuta de decreto golpista encontrada em sua casa pela PF durante busca e apreensão. Ele alegou não saber a origem do documento:

“Não sei quem fez, quem mandou fazer. O texto foi parar na minha casa, dentro de um envelope. Nunca tratei do conteúdo com o presidente ou com qualquer outra pessoa”.

Chamou atenção o fato de Torres destacar erros gramaticais e nomes equivocados no documento, como forma de desqualificar sua validade:

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“Era um texto mal escrito, com erros básicos, até o nome do tribunal estava errado”.

Nenhum direcionamento político na PRF, diz Torres

Outro ponto abordado durante o interrogatório foi o uso da PRF no segundo turno das eleições. Segundo Torres, não houve qualquer direcionamento político da atuação do órgão, e os relatórios com cruzamentos entre votação e presença de facções criminosas não foram utilizados operacionalmente.

“Jamais misturei política com segurança pública”, garantiu o ex-ministro.

Depoimento de Garnier corrobora versão parcial

Mais cedo, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier também prestou depoimento. Embora tenha confirmado participação em uma reunião no Palácio da Alvorada com Jair Bolsonaro e outros militares, afirmou que o encontro serviu apenas para avaliar o “cenário político e social” do país após as eleições. Garnier negou ter colocado as tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro e disse que não houve deliberações formais sobre qualquer plano golpista.

“A reunião teve caráter consultivo. Não houve proposta concreta, minuta ou decisão operacional”, afirmou o almirante.

Garnier também disse que as Forças Armadas, por meio da equipe de transparência eleitoral que atuou junto ao TSE, não encontraram qualquer indício de fraude.

Interrogatórios continuam

Os depoimentos fazem parte de uma semana intensa de oitivas no STF. Além de Torres e Garnier, já foram ouvidos o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o deputado federal Alexandre Ramagem. Ainda devem depor Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto.

Segundo o ministro Alexandre de Moraes, todos os réus participam presencialmente das sessões no STF, com exceção de Braga Netto, que acompanha os trabalhos por videoconferência devido à prisão preventiva no Rio de Janeiro.

As oitivas visam esclarecer o possível envolvimento de cada um dos acusados na articulação de um plano para anular o resultado das eleições de 2022, impedir a posse do presidente eleito e manter Bolsonaro no poder.